Em 1948, o pintor Cícero Dias já estava vivendo em Paris há quase dez anos e passava a fazer pintura abstrata. Parte da intelectualidade recifense enxergava menos Pernambuco nessa sua nova fase e, portanto, menos interesse. Em reação, um grupo próximo ao pintor, dentre eles Gilberto Freyre e Mário Pedrosa, atuou em sua defesa. A análise da recepção das obras de Cícero auxilia na compreensão do funcionamento do modernismo brasileiro para além do eixo Rio de Janeiro - São Paulo. Sempre lembrado em retrospectivas da arte nacional, Cícero Dias ocupa uma posição dúbia no cenário das artes pernambucanas na medida em que sua pernambucanidade é posta em questão pelo uso da abstração. Ao recuperar esse debate, pode-se vislumbrar quais eram as possibilidades e as constrições impostas aos artistas que pretendiam fazer suas carreiras na periferia do sistema cultural brasileiro.